11 de jan. de 2009

Sobre as relações afetivas ou A tragédia líquida

É incrível, a liquidez das relações nos dias de hoje. Em um instante, tudo flores, em outro, adeus. Essa é a forma de se relacionar do ser humano atual.

A ultra-individualização é, juntamente com a quantidade absurda de informação, a grande responsável por essas relações fúteis, superficiais, que se desfazem na mesma velocidade a qual se criam, quase que instantaneamente. E isso gera sofrimento, e com isso, o drama, o trágico.

Neste nosso mundo caótico (aspecto dionisíaco), nada mais natural que a ultra-individualização (este, um aspecto apolíneo) da nossa população e modo de vida. A vida, hoje, reproduz sem a beleza da arte, sem o coro dos sátiros, a tragédia grega. Uma tragédia sem essência, sem recheio, sem razão. Agimos, tolos, como atores e ao mesmo tempo expectadores da grande tragédia chamada vida. E a única redenção, é a morte, seja segundo o existencialismo (Sartre) , o Budo (código de honra japonês) ou qualquer outro tipo de corrente de pensamento que sirva à carapuça.

Devemos, nesta tragédia líquida, identificar quais os elementos que a compõe. As relações de poder socio-cultural e econômico, a individualização do ser, com a consequente indiferença crescente entre homens. A busca pela emoção forte, pela velocidade, pelo radical, pela intensidade, e cada vez mais distante fica a contemplação de nossa existência. Há uma busca incessante por sentimentos cada vez mais fortes...como uma droga em seu mais forte poder viciante, pedindo doses cada vez maiores.Nossos desejos por intensidade são assim como heroína, não basta mais apenas um pico. E, a contemplação, a admiração da existência, do mundo, do próprio amor que a cria, segue em baixa neste nosso século que começou. Sendo está, a essencia do coro sátiro.

Vivemos uma tragédia grega, sem o mais importante na tragédia em sí...A união entre o coro e o público.

7 de jan. de 2009

Sobre o modo de vida e a pos-modernidade

A fumar um cigarro, a tomar uma cerveja às 00:54 de uma quarta-feira, me pego refletindo sobre um tema extremamente pertinente.

Como as pessoas, nossos contemporâneos deste período de transição entre a idade contemporânea e pós-moderna, são adeptos de extremos. Raros são os que se mantém vivendo nesta vida aproveitando-a, e não pondo a mesma em risco, em função de excessos, e não acho necessário cita-los.E , como outra face da moeda, há aqueles que não aproveitam a vida. Podemos chama-los de "certinhos" "caretas" ou qualquer adjetivo de cunho pejorativo para almofadinha. Ambos são frutos de certas características pós-modernas, como o ultra-individualismo , o medo generalizado e a liquidez das relações interpessoais.

Vejo certas atitudes necessárias perante a vida. Correr riscos, pensar mais coletivo, criar vínculos duradouros ou intensos, melhor ainda, ambos. Todas, atitudes escassas na sociedade hoje. As pessoas hoje vivem reclusas em suas moradias ou pior ainda vivem reclusas em um mundo de ilusões, de aparência, de sonhos lisérgicos. O medo atinge todas as esferas, vivemos na ditadura do medo. O medo do outro, o medo irracional que nosso semelhante, membro da nossa espécie, irmão perante muitas religiões, é deveras estúpido e nefasto. O medo das relações, pois elas hoje se dão de forma supérflua, superficial, não se quer deixar-se descobrir e descobrir o outro, onde sequer há espaço para uma paixão avassaladora, que cria certos excessos mas não em exagero, não a ponto de por vidas ou objetivos em risco. Medo esse, que gera paranóia coletiva, com a violência, com a rua, com o outro.

Outro ponto interessante desse nosso momento histórico atual é o trabalho. Com a dominação burguesa sobre a sociedade global, vivemos na cultura do consumo, e consequentemente aquele que não produz trabalho(no sentido marxista da palavra) é desvalorizado. As artes,de forma pura e até mesmo a ciência pura, foi posta em segundo plano. O importante é consumir bens, sejam necessários ou não. Até mesmo a arte, já decadente desde o fim da tragédia grega, se esmigalhou e se transformou em algo que Nietzsche nunca sonharia: Um produto e gôndola. O próprio homem teórico, hoje se torna homem capital, nossa sociedade passou de valores helênicos a alexandrinos a valores de burgos. A produção intelectual se tornou mercadoria fina, bem de luxo a uns poucos.

A tanto mais a se falar, a se bradar aos quatro ventos, sobre como nosso mundo é medíocre e retrógrado, mas será que ainda há "espíritos livres" , que me ouçam? Melhor ainda, que me entendam?